Partimos, na chegada fomos bem recebidos, uma velha casinha de barro, porta torta, casa torta. Telhas pretas com a fumaça do fogão à lenha, um panela de barro no fogo, uma mesa com três tamboretes, dois copos e um prato. Era um velhinho, barba branca, aparentando ter setenta e poucos anos, mãos calejadas, um sorriso muito branco no rosto, e uma alegria imensa ao nos ver. Na sala uma rede, e na parede torta com ripas tortas, dois quadros também tortos, um de Frei Daminhão, e outro de Nossa Senhora. Em um canto da sala, um espécie de planta que segundo ele, era pra ser usado para alimentar o gado na época da seca.
E ele nos falava toda sua história de vida, desde sua infância pobre, passando por sua juventude de muita prosperidade, e de sua andanças pelo Brasil a fora. E em cada parte ele fazia brincadeiras para deixar a história ainda mais envolvente, digamos assim. Ele nos sorria, seu olhar refletia uma vida de sofrimento, seus pés cansados, agora estavam repousados no chão, naquela velha cadeirinha que ele sentava sempre. Nos contou sobre sua vida, e ficávamos de boca a berta a ouvir aquelas histórias e impressionados ao saber de tanta coisa. Era tão gratificante ouvir aquilo, ele não tinha nada, o seu maior bem matérial era um velho rádio que tinha em cima da mesa. Ele era feliz e não precisava de nada. Ele não tinha muito, ele tinha o melhor. A todo momento eu me perguntava porque a gente precisa de tanto para ser feliz, a gente precisa de tanta coisa material pra poder ser o que somos. Nos tornamos tão dependentes de coisas materiais.
E hoje ele ainda está lá, na casinha torta de porta torta. Esperando outro que apareça lá, para ser bem recebido com um bom café e para lhe contar uma ótima história. A melhor história.
"Tem certas coisas que se passa com a gente
Quando muda de repente na sorte que
Deus nos deu
Sabe seu moço, esse mundo é uma escola
A enxada é uma viola e o roceiro sou eu."
Pena branca e Xavantinho
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